quinta-feira, 16 de abril de 2015

Pesquisa de universidade canadense indica relação entre tabagismo e lesões no córtex cerebral

Fumar acelera o afinamento do córtex cerebral. Este foi o resultado da pesquisa feita pela Universidade McGill, no Canadá. A qual aponta as mais de quatro mil substâncias presentes no cigarro como responsáveis pela oxigenação inadequada do cérebro, que pode estar causando a redução da glândula.
O psiquiatra que liderou o estudo sobre o efeito do tabagismo no cérebro, Sherif Karama, explica que com o passar dos anos é natural que o córtex cerebral reduza de tamanho.

No entanto, o afinamento da camada é acelerado com a presença do tabaco no organismo. “O córtex cerebral sem lesões possui entre dois e seis milímetros. Com as lesões provocadas pelo uso do cigarro a espessura da glândula pode chegar a zero” aponta o psiquiatra.

O córtex cerebral é a camada mais externa do cérebro. É rico em neurônios e responsável pelo processamento neuronal mais sofisticado e distinto, que controla o nosso lado racional, como a linguagem, capacidade de atenção, a percepção e a capacidade de aprendizagem. Uma lesão dessa camada geralmente compromete a capacidade do indivíduo de pensar, de controlar as emoções e de comportar-se normalmente.

Imagem apresenta as divisões do córtex cerebral
O estudo foi feito com 504 voluntários, na faixa dos 70 anos, entre fumantes, não fumantes e ex fumantes e ainda constatou que deixar de fumar faz a velocidade de afinamento do córtex voltar ao normal, como explica Karama. “Aqueles que pararam de fumar há mais tempo tinham o córtex mais espesso do que os que haviam deixado o cigarro recentemente. Independentemente do tempo que cada um deles havia fumado”.

Em entrevista a revista Ciência Hoje, do Brasil, Karama foi perguntado se um ex-fumante poderia voltar a ter o córtex cerebral com espessura normal. E ele foi taxativo na resposta. “Nossos dados mostram que ex-fumantes, como um grupo, podem acabar tendo a mesma quantidade de córtex (em algumas áreas) como a de pessoas que nunca fumaram.” O médico ainda pontua que tudo depende de quanto tempo as pessoas pararam de fumar e de quantos cigarros fumavam por dia. Karama, no entanto, diz que essa afirmação precisa de comprovação em experimentos com mais indivíduos. Já os  mecanismos por trás dessa recuperação ainda são desconhecidos.

O quadro abaixo apresenta as divisões do córtex cerebral, em relação com a imagem do cérebro colorido acima:

Quadro explicativo em relação a imagem da divisão do Córtex Cerebral


Portugueses estão deixando de fumar

De acordo com Direção Geral de Saúde portuguesa, um em cada 100 portugueses está deixando de fumar. Os dados foram levantados junto ao iCoach, aplicativo que auxilia a deixar o tabagismo, e representam cerca de 2 mil pessoas, já que 21% da população portuguesa é fumante.

Com base nessas informações, o governo português decidiu revisar a lei do tabaco e anunciou, no início de 2015, a criação de uma linha telefônica de apoio à cessação tabágica. O Ministério da Saúde ainda revelou que vai comparticipar em 40% dos medicamentos para os portugueses que pretendem deixar de fumar.

"A abordagem medicamentosa é apenas uma parte e não a mais significativa dos programas de desabituação. A maioria das desistências dos programas não tem a ver com os medicamentos", afirmou, em entrevista ao Diário de Notícias, o secretário de Estado Adjunto da Saúde, Fernando Leal da Costa

Outras medidas adotadas pelo governo português estão expostas no relatório do Programa Nacional de Prevenção e Controlo do Tabagismo (PNPCT), divulgado em setembro de 2014 e que traz dados reais da situação no país até o ano de 2012.

O gráfico abaixo, divulgado pelo PNPCT, apresenta indicadores de mortalidade relativos a doenças relacionadas com o tabaco (todas as idades, <65 anos e ≥65 anos), por sexo, em Portugal Continental (2008 a 2012)



O estudo ainda aponta que, no sexo masculino, fumar é a segunda causa, a seguir aos riscos alimentares, que leva a perda de anos de vida saudável. No sexo feminino, que tem apresentado consumos de tabaco inferiores aos do sexo masculino, fumar constitui a 7.ª causa de perda de anos de vida saudável, a seguir aos riscos alimentares, hipertensão, obesidade, sedentarismo, intolerância à glicose, e uso de álcool (GBD 2010; IHME, 2013).



Por Fábio Giacomelli e Tâmela Grafolin - 16/04/2015

Sem comentários:

Enviar um comentário

Deixe-nos a sua opinião sobre o artigo ou sugestões.