Espaços históricos e degradados, uma esperança de novas indústrias
São vários os edifícios e
espaços, históricos e degradados, que têm sido reaproveitados para a conceção
de novos museus ou locais de novas indústrias criativas. A Covilhã tornou-se um
exemplo de transformação de imóveis, que foi necessária segundo o desenvolvimento
das novas economias e novos modelos de negócio.
Por: José Carlos Costa e Anabela Carvalho
Com o passar dos anos e o evoluir
da história, diversos imóveis foram demonstrando as rugas do tempo. O
surgimento de novas economias transformaram diversas cidades, principalmente as
que se centravam em áreas de produção que foram ultrapassadas por novos modelos
de negócio.
A Covilhã é uma dessas cidades
que durante séculos se dedicou à manufatura. Conhecida por muitos como a
“Manchester portuguesa”, a Covilhã tem na sua natureza geográfica um forte
motor impulsionador para o desenvolvimento de atividades têxteis, falamos das
zonas ribeirinhas que tornam os terrenos circundantes em fortes potencialidades
agro-pecuárias que levaram ao desenvolvimento de moinhos, lagares, pisões,
tintes e tendas, e lavandarias com águas ideais para o tratamento de lãs.
Iniciava-se então, no século XVII, uma era áurea da cidade serrana. No século
XX, o mundo começou a transformar-se através do desenvolvimento industrial e um
século depois, toda as alterações que foram levadas a cabo, originaram a
conceção de uma nova sociedade, marcada por uma nova economia.
Em Portugal, os sinais dessa nova economia
começaram a ser notados após a queda do regime ditatorial salazarista. O país
ibérico era até então um espaço territorial fechado no que toca a novas
transformações, virado para as tradições. A partir de 1974 o país “abriu-se” ao
mundo e entrou numa transformação galopante com as atividades primárias, que
até então eram dominantes, a ganharem papel “secundário”.
De regresso à cidade que se
encontra na encosta da Serra da Estrela, os lanifícios e a indústria têxtil
passaram também para segundo plano e outros modelos de negócio acabaram por
surgir. Nesse momento, a cidade soube lidar com a transformação e começou a
implementar os novos modelos em locais desabitados pela fervura fabril que se
vivera até então. Em 1973, na conhecida Real Fábrica dos Panos, nasce o
Instituto Politécnico da Covilhã. No mesmo local onde em 1784 eram
manufaturadas tinturaria e acabamento de tecidos, produzia-se agora o ensino. Anos
mais tarde, aquele que começou por ser um Instituto Politécnico virou
Universidade e este começou a ser o motor principal de uma nova cidade. Este
terá sido o pontapé de saída para a aproveitação de espaços históricos e de
degradação nesta cidade que nos anos seguintes levou a novas transformações
desses espaços. O mesmo edifício e outros circundantes acabaram por se tornar
museus, onde a densa história dos lanifícios é relembrada e o património é conservado.
Sobre a zona histórica da cidade, que acabou
por perder o estatuto de CBD (Central Business District – distrito urbano que
funciona como principal polo financeiro e comercial de uma cidade) para novas
zonas comerciais, diversos edifícios foram restaurados e tornados em museus,
como exemplo do Museu de Arte e Cultura, Museu de Arte Sacra e a Casa dos
Magistrados. Outro fenómeno de reaproveitamento de zonas degradadas para novos
espaços de cultura e arte, foi o surgimento do Projeto Wool. Falamos de Arte
Urbana que tem como objetivo criar novos circuitos de roteiros turísticos de
forma a fomentar a economia da cidade e despertar a mentalidade das pessoas.
São já vários os pontos na cidade em que diversos edifícios abandonados e
degradados viraram locais atrativos de passagem obrigatória. Ainda assim são
muitos os locais históricos que se encontram abandonados mas não esquecidos.
Recentemente a edilidade local, na celebração do dia do património, reabriu as
portas da antiga fábrica “Nova Penteação”. Estima-se que existam 60 edifícios
fabris no concelho que esperam novos investimentos para recuperação do
património que se encontra degradado.
Na zona histórica existem muitas habitações
que podem ser reaproveitadas, tendo em conta que as pessoas tendem em
deslocar-se para a “periferia” da cidade. Estas transformações acabam por ser
dispendiosas e o dinheiro, atualmente não abunda. Sinal desse facto foi a
demora que a reabilitação do antigo sanatório levou. Foram nove os anos que
levaram ao restauro de um edifício mítico que se encontrava em perfeito estado
de deterioração, este foi alvo de grande investimento e tornou-se numa Pousada
atrativa que embeleza a encosta do maciço central.
No entanto, não só a Covilhã é exemplo da musealização e restauro de espaços degradados. As cidades de Évora e Guimarães tornam-se um exemplo de locais degradados e desabitados pelo tempo e que transformaram os seus locais históricos em locais de passagem. A cidade de Guimarães para além de ter reabilitado espaços transformando-os em museus, promove várias atividades de cariz cultural inserida no centro histórico da cidade, classificado já Património Mundial pela UNESCO em 2001. Em Évora vários espaços viraram museus, exemplo disso é o largo Conde Vila Flor que alberga as ruinas do templo Romano, o Museu de Évora, o Palácio dos Duques de Cadaval, entre outros. Os museus são compreendidos como instituições permanentes a serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, que coleciona, conserva, pesquisa, comunica e exibe, para o estudo, a educação e o entretenimento e evidencia o material do homem e do seu ambiente.
O reaproveitamento tem sido um fenómeno
dominante que acaba por originar um enriquecimento económico e cultural das
cidades. O surgimento de indústrias criativas ligadas à geração e exploração do
conhecimento e informação tem sido apanágio no que toca a este fenómeno da
restauração e musealização de zonas degradadas.
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