quinta-feira, 23 de abril de 2015

A volta do catolicismo conservador faz o número de adeptos cair 19,6% no último século

A diferença de credo entre católicos e protestantes tem a sua
origem na Reforma do século XVI
Desde que os estados começaram a se tornar laicos, o número de católicos no mundo começou a diminuir. Embora a queda tenha ocorrido gradualmente entre as décadas de 1920 e 1940, a volta do catolicismo conservador após a morte do Papa João XXIII, em 1963, e com o surgimento de novos direitos civis, não aceitos pela igreja, fez com que o número de católicos no mundo despencasse de 48,5% da população mundial para 29,6%.

O sociólogo Emir Sader aponta outros fatores para o declínio da igreja católica. Para ele, aliam-se ao conservadorismo os problemas de corrupção e escândalos sexuais enfrentados pelo catolicismo. “No começo do capitalismo, a Igreja católica condenava os juros e, com eles, os banqueiros. Em primeiro lugar, porque com os juros a pessoa ganha com o suor do rosto alheio e não com o seu próprio suor. Em segundo, porque o tempo pertenceria a Deus e não ao banqueiro, que lucra apenas com o passar do tempo. Hoje a Igreja tem bancos que vivem dos juros, especulam, e entram nas negociatas financeiras” destaca o sociólogo.

Sobre os escândalos sexuais envolvendo padres e bispos, Sader é ainda mais crítico. “Os escândalos sexuais são uma manifestação clara que é impossível uma grande quantidade de pessoas se absterem de atividades sexuais. No caso da Igreja – uma instituição sumamente conservadora nos temas ligados à mulher, ao casamento, ao aborto, ao homossexualismo – se refletiu nas modalidades mais cruéis de vida sexual – a pedofilia”.

A outra face da queda do número de católicos pelo mundo é o consequente aumento de adeptos a outras religiões, como o protestantismo. Um movimento que iniciou na Europa Central no início do século XVI como uma reação contra as doutrinas e práticas do catolicismo romano medieval. O termo protestante é derivado do latim protestari que significa declaração pública ou protesto, relacionando-se diretamente com o inconformismo em aceitar algumas práticas da Igreja Católica.

Enquanto a população católica mundial é de 1,78 bilhão de fiéis, número considerado baixo para uma crença existente há mais de 2 mil anos, os protestantes já chegam aos 801 milhões de adeptos em menos de 500 anos. Embora ambas as religiões tenham surgido na Europa, é nas Américas que está o maior número de praticantes. De acordo com o Instituto Pew Research, 25% dos católicos de todo o planeta estão na América do Sul, enquanto 20% dos protestantes estão na América do Norte.

Um dos principais meios de conquista de adeptos protestantes, vem da ligação direta com Deus, onde cada pessoa pode se relacionar diretamente com ele, sem a necessidade de um intermediário, diferentemente do catolicismo, onde o único método de se obter a “salvação” é através de pessoas santificadas como padres e bispos.

Martinho Lutero, líder da
Reforma Protestante
O protestantismo em terras brasileiras

O protestantismo foi trazido ao Brasil pelos holandeses em 1625 e seus seguidores foram chamados de evangélicos. Em 1970, o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registrava cerca de 4,8 milhões de evangélicos. Dez anos depois, em 1980, o número já era de 7,9 milhões de seguidores. 

Em 1991 aumentou para 13,7 milhões, chegando a casa dos 29,1 milhões em 2005. O instituto estima que, atualmente, os evangélicos representam 24% dos brasileiros (aproximadamente 44,3 milhões de pessoas). Segundo o IBGE, se esse crescimento se mantiver estável ao longo dos anos, no ano de 2025, metade da população brasileira será evangélica.


Papa Francisco é uma das apostas da Igreja Católica para
atrair novos e velhos adeptos. Foto: Tiziana Fabi/AFP

A estratégia da Igreja Católica para reverter o declínio

Teólogos e sociólogos apontam a canonização de papas estimados pelos fiéis, como João XXIII e João Paulo II, como estratégia da Igreja Católica para conter o declínio do número de adeptos. Para o pesquisador Johnny Bernardo tanto a canonização dos papas quanto a escolha de Francisco como sucessor de Bento XVI visam fortalecer a estratégia romana de absorção do protestantismo brasileiro e mundial por meio do ecumenismo.

Além disso, Bernardo também aponta que as recentes atitudes da igreja mostram uma preocupação com o crescimento das crenças evangélicas. “A escolha de Francisco como sucessor de Bento XVI, teve como base o fato de que o referido possui um histórico de diálogo com grupos protestantes da América Latina e, também, pela proximidade com o Brasil, país este recentemente intitulado pelo New York Times como ‘um laboratório para reverter o declínio do catolicismo’” comenta Bernardo.

O sociólogo Emir Sader ainda acrescenta que além de dialogar com os protestantes, o papa Francisco terá de retomar a imagem carismática de João XXIII e João Paulo II e demonstrar uma certa disponibilidade da igreja para aceitar os avanços da sociedade civil.

Por Fábio Giacomelli e Tâmela Grafolin - 23/04/2015

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