quinta-feira, 26 de março de 2015

Partidos Extremistas em Crescimento

Por: José Carlos Costa e Anabela Carvalho

  A revolução francesa de 1789 trouxe ao mundo a distinção entre Esquerda e Direita. No império de Napoleão Bonaparte, os membros da Assembleia Nacional dividiram-se, à direita como partidários do rei e à esquerda como simpatizantes da revolução. Nesse momento, a distinção entre Esquerda e Direita foi concebida com a divisão entre partidários da República e partidários da Monarquia. Desse momento até aos dias de hoje, a Esquerda e Direita sofreu diversas alterações, formas de prática e opiniões convergentes.
  Já no século XX, as Eleições Gerais britânicas de 1906 e os debates sobre a Guerra Civil Espanhola no final de 1930, foram alguns dos acontecimentos históricos que ajudam a identificar as distinções entre a Esquerda e a Direita.
  Mesmo assim, o momento na história da humanidade que deixou mais claro a distinção entre ideologias foi a chamada “Guerra Fria”. De um lado o modelo liberal, democrático e capitalista, do outro o modelo social, autoritário e comunista.
   Após a queda do Muro de Berlim assistimos a mutações concetuais que tornam limitada a distinção entre Esquerda e Direita e, segundo alguns cientistas políticos, existe hoje uma definição mais complexa que procura combinar dimensões políticas, económicas e sociais. Klaus von Beyme, cientista político alemão, categoriza os partidos europeus em nove famílias, são elas o comunismo, socialismo, política verde, liberalismo, democrata cristão, conservador e extrema-direita.
  Outro conceito difícil de distinguir é o Extremismo. Entendido genericamente como um modelo de ação política que preconiza soluções extremas, radicais e revolucionárias para os problemas sociais. É facilmente associado ao dogmatismo, fanatismo e tentativa de imposição de estilos que rompem com os valores que vigoram numa sociedade. Esse facto ajuda a que na generalidade o uso deste conceito seja mantido com uma conotação negativa. O extremismo é então entendido como a adoção de um comportamento que rejeita as regras de uma comunidade política, não se identificando com as suas finalidades, valores e instituições, procurando transformá-los. Quem adota o extremismo tem como prática a recusa da negociação e do compromisso.
  Posteriormente, haverá duas distinções que na vertente concetual são fáceis de distinguir mas que na prática causa alguma confusão. De um lado, a Extrema-Direita refere-se ao apoio de uma forte ou completa hierarquização social da sociedade e apoia a supremacia de certos indivíduos ou grupos. A Extrema-Direita é associada a pessoas ou grupos que possuem nacionalismos extremados, xenófobos, racistas, fundamentalistas religiosos ou possuidores de visão reacionária. Alguns movimentos de Extrema-Direita procuram a opressão e genocídio com base na inferioridade de uma parte da população comparativamente a outra. Do outro lado, a Extrema-Esquerda é utilizado em muitos países da Europa e da América, para designar correntes políticas situadas à esquerda dos partidos socialistas e dos partidos comunistas tradicionais. A Extrema-Esquerda facilmente relacionada ao marxismo, passa por defender reformas radicais do sistema social, político e económico, por distribuir equitativamente a riqueza e descentralizar o controlo dos meios de produção. Seja a Extrema-Direita ou Extrema-Esquerda, ambas são caracterizadas por um espaço de discussão que cria uma rotura, por um forte culto de autoridade a líderes carismáticos.
  Segundo a imprensa mundial nos últimos tempos tem surgido diversas correntes políticas extremistas. A verdade é que este facto é passível de discussão. O caso mais recente ocorreu nas eleições legislativas da Grécia com a eleição de Alexis Tsipras como Primeiro-Ministro do país helénico. Este foi eleito pelo partido de esquerda, fundado em 2004, o Syriza, que nasceu de uma aliança eleitoral de 13 partidos e organizações de esquerda. O Syriza é entendido por muitos como um partido extremista por defender o aumento dos impostos para os contribuintes com mais rendimentos, o adiamento ou anulação dos pagamentos da dívida, cortes nos gastos da defesa e um aumento do salário mínimo e das pensões. O partido de Tsipras defende uma frente ampla de anti austeridade e especulou-se que iria promover a saída da Grécia da União Europeia. Se é verdade que as medidas levadas a cabo pelo representante do Syriza acabam por romper com o sistema social, político e económico levado a cabo nos últimos anos no país grego, não será legítimo entender o Syriza como um partido extremista, isto porque dentro deste partido existem diversas ideologias como o socialismo democrático, ecossocialismo, socialismo e anti capitalismo e os diferentes membros posicionam-se nessas diferentes ideologias. Aquilo que muitos entendem por um crescimento dos partidos extremistas acaba por ser um crescimento de partidos populistas.
  Em suma, podemos verificar que a prática política levada a cabo nos dias de hoje acaba por dificultar a tarefa de caracterização ideológica, tendo em conta a posição que os agentes acabam por ocupar.



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