Por: José Carlos Costa e Anabela Carvalho
A revolução
francesa de 1789 trouxe ao mundo a distinção entre Esquerda e Direita. No
império de Napoleão Bonaparte, os membros da Assembleia Nacional dividiram-se,
à direita como partidários do rei e à esquerda como simpatizantes da revolução.
Nesse momento, a distinção entre Esquerda e Direita foi concebida com a divisão
entre partidários da República e partidários da Monarquia. Desse momento até
aos dias de hoje, a Esquerda e Direita sofreu diversas alterações, formas de
prática e opiniões convergentes.
Já no século XX, as Eleições Gerais britânicas
de 1906 e os debates sobre a Guerra Civil Espanhola no final de 1930, foram
alguns dos acontecimentos históricos que ajudam a identificar as distinções
entre a Esquerda e a Direita.
Mesmo assim, o
momento na história da humanidade que deixou mais claro a distinção entre
ideologias foi a chamada “Guerra Fria”. De um lado o modelo liberal,
democrático e capitalista, do outro o modelo social, autoritário e comunista.
Após a queda do Muro de Berlim assistimos a mutações
concetuais que tornam limitada a distinção entre Esquerda e Direita e, segundo
alguns cientistas políticos, existe hoje uma definição mais complexa que
procura combinar dimensões políticas, económicas e sociais. Klaus von Beyme,
cientista político alemão, categoriza os partidos europeus em nove famílias,
são elas o comunismo, socialismo, política verde, liberalismo, democrata
cristão, conservador e extrema-direita.
Outro conceito
difícil de distinguir é o Extremismo. Entendido genericamente como um modelo de
ação política que preconiza soluções extremas, radicais e revolucionárias para
os problemas sociais. É facilmente associado ao dogmatismo, fanatismo e
tentativa de imposição de estilos que rompem com os valores que vigoram numa
sociedade. Esse facto ajuda a que na generalidade o uso deste conceito seja
mantido com uma conotação negativa. O extremismo é então entendido como a
adoção de um comportamento que rejeita as regras de uma comunidade política,
não se identificando com as suas finalidades, valores e instituições,
procurando transformá-los. Quem adota o extremismo tem como prática a recusa da
negociação e do compromisso.
Posteriormente,
haverá duas distinções que na vertente concetual são fáceis de distinguir mas
que na prática causa alguma confusão. De um lado, a Extrema-Direita refere-se
ao apoio de uma forte ou completa hierarquização social da sociedade e apoia a
supremacia de certos indivíduos ou grupos. A Extrema-Direita é associada a
pessoas ou grupos que possuem nacionalismos extremados, xenófobos, racistas,
fundamentalistas religiosos ou possuidores de visão reacionária. Alguns
movimentos de Extrema-Direita procuram a opressão e genocídio com base na
inferioridade de uma parte da população comparativamente a outra. Do outro
lado, a Extrema-Esquerda é utilizado em muitos países da Europa e da América,
para designar correntes políticas situadas à esquerda dos partidos socialistas
e dos partidos comunistas tradicionais. A Extrema-Esquerda facilmente
relacionada ao marxismo, passa por defender reformas radicais do sistema
social, político e económico, por distribuir equitativamente a riqueza e
descentralizar o controlo dos meios de produção. Seja a Extrema-Direita ou
Extrema-Esquerda, ambas são caracterizadas por um espaço de discussão que cria
uma rotura, por um forte culto de autoridade a líderes carismáticos.
Segundo a
imprensa mundial nos últimos tempos tem surgido diversas correntes políticas
extremistas. A verdade é que este facto é passível de discussão. O caso mais
recente ocorreu nas eleições legislativas da Grécia com a eleição de Alexis
Tsipras como Primeiro-Ministro do país helénico. Este foi eleito pelo partido
de esquerda, fundado em 2004, o Syriza, que nasceu de uma aliança eleitoral de
13 partidos e organizações de esquerda. O Syriza é entendido por muitos como um
partido extremista por defender o aumento dos impostos para os contribuintes
com mais rendimentos, o adiamento ou anulação dos pagamentos da dívida, cortes
nos gastos da defesa e um aumento do salário mínimo e das pensões. O partido de
Tsipras defende uma frente ampla de anti austeridade e especulou-se que iria
promover a saída da Grécia da União Europeia. Se é verdade que as medidas
levadas a cabo pelo representante do Syriza acabam por romper com o sistema
social, político e económico levado a cabo nos últimos anos no país grego, não
será legítimo entender o Syriza como um partido extremista, isto porque dentro
deste partido existem diversas ideologias como o socialismo democrático,
ecossocialismo, socialismo e anti capitalismo e os diferentes membros
posicionam-se nessas diferentes ideologias. Aquilo que muitos entendem por um
crescimento dos partidos extremistas acaba por ser um crescimento de partidos
populistas.
Em suma, podemos
verificar que a prática política levada a cabo nos dias de hoje acaba por
dificultar a tarefa de caracterização ideológica, tendo em conta a posição que
os agentes acabam por ocupar.
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