quinta-feira, 19 de março de 2015

Das ilhas portuguesas para o sul do Brasil

Invernadas de danças gaúchas são a marca da cultura no Rio
Grande do Sul. Foto: Portal Ufrgs
Danças portuguesas atravessam o oceano e tornam-se tradicionais no Folclore do Rio Grande do Sul

Passos bem marcados intercalados com valsados entre os pares. A Chimarrita e o Pezinho nasceram nas ilhas de Portugal e foram levados para o sul do Brasil por colonos açorianos, em sua maioria, que foram os responsáveis pela colonização do Rio Grande do Sul no século XVIII.

A dança da Chimarrita tem origem nos Açores e na Madeira e consiste em passos de aproximação, onde os dançarinos formam duas fileiras e fazem aproximações, ao som da gaita e do violão. Com o passar dos anos, a dança ganhou adereços e passos tipicamente gaúchos, sendo expandida para o Uruguai, a Argentina e estados brasileiros como Santa Catarina, Paraná e São Paulo.

Hoje, no Rio Grande do Sul, a interpretação da dança da Chimarrita se dá com pares enlaçados, onde, de acordo com o historiador João Carlos Paixão Cortes, em seu livro “Manual de Danças Gaúchas”, os figurantes dispõem-se em filas e depois seguem assim, até formarem uma roda, um atrás do outro.

Além da Chimarrita, os açorianos levaram ao sul do Brasil a popular dança do “Pezinho”. Dança tradicional da Ilha Terceira, o ritmo teve destaque no litoral dos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, mas foi neste último que ganhou mais vivacidade com a introdução da cordiona. De acordo com Paixão Cortes, o “Pezinho” é a dança mais popular do folclore rio-grandense e se diferencia de outras por ser o único estilo em que todos os dançarinos obrigatoriamente cantam.

Os passos da Chimarrita

O passo é lento e atraente. É um baile cantado, onde há solo e coro. A Chimarrita assemelha-se a uma antiga polca, em suas marcações sapateadas ou na rancheira moderna, com os bailados dos pares. A coreografia da dança se apresenta em três movimentos básicos: o rufado, passo onde os pares dançam separados, sem batidas e pés e mãos. A valsada, onde os casais dançam de forma enlaçada, em um típico passo de valsa. E o rufando, onde os passos valsados são marcados por batidas das mãos e dos pés.

Além dos movimentos pré-definidos na origem da dança, há, ainda, passos obrigatórios a se executar na apresentação da Chimarrita: o taconeio-de-polca, a meia-planta da polca e o passo-lateral da polca. Todos eles trabalham na marcação da dança, oferecendo leveza ao passo combinando ao som executado. A Chimarrita apresenta, além da posição inicial, outras oito figuras de dança durante a sua execução, onde os pares combinam as marcações, os passos de recuo e as trocas de lugares.

Variantes da Chimarrita

A Chimarrita também é denominada Chimarrita-balão em algumas localidades, porém essa dança, apesar de também ter origem portuguesa, não se assemelha a Chimarrita que espalhou-se pelo Rio Grande do Sul, Argentina e Uruguai. A Chimarrita-balão apresenta uma simbiose curiosa, pois engloba duas gerações coreográficas extremamente distintas: é uma dança onde os pares ficam enlaçados durante toda a música e, ao mesmo tempo, apresenta passos de dança sapateada, que atingiu o auge da popularidade entre os latinos no século XVIII.

Já a Chimarrita-alazão é uma versão adaptada da dança tradicional, com poucas mudanças ao modo original da dança. Essa variante é bastante executada nas províncias argentinas de Corrientes e Entre-Rios, chegando aos estados brasileiros do Paraná e Santa Catarina. Difere-se da original apenas no cruzamento de pares e nos passos com um misto de valsa e xotes, enquanto a dança original baseia-se na antiga polca e na rancheira moderna. Mesmo assim, os passos e movimentos obrigatórios são os mesmos da versão inicial.

Há, ainda, outras denominações para a dança, de acordo com a região geográfica em que é praticada: Chamarrita, Chimarrete, China-rita e Limpa-banco.

Passos do Pezinho

O Pezinho pertence a uma geração coreográfica especial, na qual se apresentam duas partes características: na primeira parte há uma marcação de pés e na segunda, os pares giram em torno de si próprios, tomados pelo braço. Além disso, na primeira parte da dança os pares se encontram em fileiras opostas – mulheres de um lado e homens do outro – para acentuar a uniformidade dos movimentos e só se começa a dançar quando a música passa a ser cantada.

Paixão Cortes também ressalta características da melodia dançada, para o historiador a ternura e ingenuidade – que também marcam o “Pezinho” português – foram determinantes para a aceitação e popularização da dança no Rio Grande do Sul.

No livro “Manual de Danças Gaúchas” publicado em 1997 e referência no estudo da cultura rio-grandense, ritmos como a “Raspa” mexicana, o “Chilbelri” francês e o “Herr-Schimdt” alemão são considerados semelhantes ou irmão do “Pezinho”. No entanto, Paixão Cortes destaca que a “Raspa” costuma ser divertida e despreocupada, já o “Chilbelri” e o “Herr-Schimidt” são robustos e desatinados em comparação com a delicadeza e ingenuidade do “Pezinho”.

Por Fábio Giacomelli e Tâmela Grafolin

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