quinta-feira, 7 de maio de 2015

A religião como causa de guerras

7 de Maio de 2015


              Vários são os conflitos armados que se registam ao longo da História. Como motivos da sua origem muitas vezes são apontados fatores políticos e económicos. Porém, através de uma análise mais aprofundada, a religião surge no centro da questão como influência nas esferas políticas, económicas e sociais. Assim, a religião é considerada por muitos como a origem de todas as guerras.

Por: Adriana Ribeiro e Joana Santos

                Com o final da II Guerra Mundial, em 1945, surgiu a preocupação de manter o clima de paz mundial a longo prazo. O nascimento da Organização das Nações Unidas (ONU) ditou a criação e aceitação, por parte dos estados-membros, da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Nas linhas principais deste documento defende-se que exista respeito universal e observância dos direitos humanos e liberdades fundamentais para todos, sem que haja distinção de raça, sexo, língua ou religião. A tentativa de diminuir a origem de conflitos com origens religiosas foi sublinhada em 1999 com a assinatura do Apelo Espiritual de Genebra. O objetivo do documento centrava-se na garantia de que a religião nunca mais fosse utilizada para justificar a violência. Este Apelo conseguiu juntar assinaturas de líderes budistas, protestantes, católicos, cristãos ortodoxos, judeus, muçulmanos, entre outras religiões. No entanto, apesar desta e de outras tentativas de assegurar a liberdade de religião, grande parte dos conflitos mais recentes ou hoje ainda ativos são motivados pelo choque de crenças e doutrinas misturadas com fatores políticos, económicos, raciais e étnicos.  
Na guerra do Afeganistão dois grupos disputaram o poder do país. De um lado estava o grupo Talibã, que se trata de um grupo fundamentalista islâmico que governou o país entre 1996 e 2001. Do outro lado da batalha encontrava-se a Aliança do Norte oficialmente designada como Frente Islâmica Unida para a Salvação do Afeganistão, uma organização político-militar criada pelo Estado Islâmico em 1996 com o objetivo de unir vários grupos demográficos afegãos para lutarem contra os talibans. A partir de 2001, depois dos atentados do 11 de setembro, a Aliança do Norte começou a contar com o apoio dos Estados Unidos da América.
No caso da Nigéria, os grupos em conflito são os cristãos e muçulmanos. A população nigeriana (cerca de 148 milhões de habitantes) está marcada pela diversidade de grupos étnicos em várias partes do país. Esta realidade origina constantemente disputas territoriais. Desde 2002 que os conflitos armados se têm acentuado nesta região motivados, principalmente, pela adoção da sharia, a lei islâmica, como principal fonte da legislação. Esta situação, em 2012, contava com mais de 10 mil mortos e milhares de refugiados.
Judeus e islâmicos são os grupos em confronto em Israel. Isto porque em 1947, a ONU aprovou a divisão da Palestina num Estado judeu e num Estado árabe. Um ano depois, Israel foi proclamado país. O seu crescimento deixou os palestinos sem Estado e deu-se início à guerra. Em 1993, tentou-se pôr termo às disputas com o Acordo de Oslo, onde se deu início às negociações para a criação de um Estado Palestino. As negociações complicaram-se quando se discutiu a situação da Cisjordânia e da parte oriental de Jerusalém. Tratam-se de zonas que nenhuma das duas partes queria abrir mão. Apesar da dificuldade das negociações o acordo foi assinado na cidade norueguesa de Oslo.
No entanto, na História mundial, outros são os exemplos de guerras que colocam frente-a-frente no campo de batalha membros de religiões diferentes. Como principal exemplo, temos o caso das Cruzadas. Esta campanha militar durante os séculos XI e XIII, levou militares a partir da Europa Ocidental em direção à chamada Terra Santa (Palestina) e à cidade de Jerusalém. O objetivo era conquistar estes territórios, ocupá-los e mantê-los sob o domínio cristão.
Outro exemplo que marcou a História foi a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648). Nesta guerra várias nações da Europa lutaram entre si uma série de guerras no território que é hoje a Alemanha. Entre vários motivos como rivalidades territoriais e comerciais, as rivalidades religiosas foram um dos motivos que deu origem à guerra. Na França ocorreram as guerras religiosas. Onde na segunda metade do século XVI, cristãos e protestantes deram origem a uma série de oito conflitos.
Ao analisar vários momentos da História até à atualidade verifica-se que muitas das guerras que se realizaram e realizam têm de fundo razões ligadas à religião. Várias, também, foram as personalidades que já se deram conta disso.
Escritor e jornalista britânico, Christopher Hitchens, foi considerado um dos intelectuais mais polémicos e influentes do cenário internacional nos últimos anos. Colaborou com as publicações mais prestigiadas tanto na europa como na américa: "Vanity Fair", "Slate", "The Nation", "The New York Review of Books", "The Times" e "National Geographic", entre outras. Além de sua obra mais célebre "Deus não é grande", Hitchens escreveu "Cartas a um jovem contestador", "A vitória de Orwell", "O julgamento de Kissinger" e "Amor, pobreza e guerra".
Na obra “Deus não é grande”, é feita uma crítica às principais religiões. Ateísta declarado e crítico da invasão americana ao Iraque, Hitchens, “mergulhou” durante anos no universo complexo das religiões para um quadro evidente de todos os dogmas da fé manipulados pelos homens através da história. Argumentou que a religião era a fonte de toda a tirania e que muitas das perversidades no mundo foram provocadas em nome de Deus. Cristianismo, Judaísmo e Islamismo são interpretações de uma mesma invenção em nome das quais se cometem atrocidades. A fé acorrenta bilhões de pessoas aos preconceitos contra a mulher, contra o sexo e contra o desenvolvimento da ciência. A religião, diz ele, envenena tudo, direciona a humanidade para a guerra, para o ódio e para o conflito.
Christopher Hitchens, falecido em 2011, devido a doença prolongada, acreditava que a humanidade apresenta-se como uma espécie parcialmente racional, dominada pelo medo, seja o medo da morte, ou do desconhecido, que acredita que o universo foi criado para si. Esse elemento convenceu o Homem de que nada foi por acaso, sendo assim, o ser humano tem que ser o centro, o objeto de tudo. Entre o medo e o egoísmo, “é muito fácil vender a religião”, afirmou Hitchens.
Em Portugal, o Prémio Nobel da literatura, José Saramago, polemicamente defendia esta mesma ideia, da religião como uma proteção do ser humano. Sobre o Corpo de Deus, José Saramago, atrevidamente, admitia que a temática religiosa, quando a aborda, é "para fáceis heresias, como costumam ser as minhas, segundo canónicas e abalizadas opiniões". Por isso, afirma autoritariamente: "Diz-se que todos somos filhos de Deus. Não é verdade, mas com esta falsidade se consolam muitos".



Sem comentários:

Enviar um comentário

Deixe-nos a sua opinião sobre o artigo ou sugestões.